Estado de S. Paulo. 11/02
ONGs acusam governo de discriminar gays com veto de vídeo |
Lígia Formenti/Agência Estado
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Convicto
de que houve veto ao filme dirigido ao público gay programado para ser
exibido durante a campanha de aids do carnaval, o Fórum de ONGs de Aids
do Estado de São Paulo decidiu apresentar uma denúncia formal contra o
governo brasileiro em instâncias internacionais de direitos humanos. O
Fórum, que congrega 92 entidades filiadas, anunciou também que vai
apresentar uma representação no Ministério Público para que seja
investigada discriminação e desperdício de recursos públicos, por causa
do cancelamento da produção do vídeo.
"Já está tudo acertado. Só há uma possibilidade de revermos nossa posição: a veiculação na TV domingo do filme originalmente programado", afirmou o presidente do Fórum, Rodrigo Pinheiro. Apresentado semana passada numa festa organizada no Rio, o filme dirigido ao público gay foi retirado da internet por determinação do Ministério da Saúde. A justificativa era a de que o material havia sido feito para apresentação em locais fechados, não na internet ou na TV. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o vídeo dirigido ao público está em fase de produção.
"Mais uma vez, ele joga para
plateia. Faz festa, tenta agradar e, por fim, retrocede", afirma o
presidente do grupo Pela Vidda, Mário Scheffer. Para o movimento social,
há quatro evidências que demonstram o veto do governo.
O filme tirado do ar já havia sido
apresentado no lançamento da campanha. "Se não pode na TV, porque
poderia numa festa? E o discurso do ministro na ocasião, todo o clima
indicava que aquele vídeo é o que seria veiculado", relata Pinheiro. A
descrição do filme dirigido para TV em texto divulgado pelo Ministério
da Saúde coincide com o material que foi retirado do ar e tem formato de
30 segundos e linguagem para grande público, avalia o movimento. Por
fim, essa retirada foi feita sem nenhum tipo de justificativa pelo
Ministério da Saúde.
O retrocesso é atribuído ao receio
do governo - e de setores dentro do próprio ministério - de contrariar
grupos religiosos, sobretudo em ano eleitoral. O governo quer evitar
desgastes como o ocorrido ano passado - e que rende dor de cabeça até
agora - com a distribuição de material contra homofobia, programado para
ser feito pelo Ministério da Educação. "É uma grande decepção. O
governo mostra estar totalmente rendido neste tema a grupos
fundamentalistas e a base aliada. Um passo atrás e, agora, numa área que
o Brasil sempre foi internacionalmente reconhecido pela ousadia e pela
liderança, o combate à aids. Mais do que uma oportunidade perdida, é uma
mancha", disse o presidente do grupo Pela Vidda.
Scheffer lembra que problema
semelhante foi registrado na campanha do Dia Mundial de Aids. Era
esperada uma campanha dirigida ao público gay. Durante o lançamento,
movimento social foi surpreendido com uma campanha feita sobre
preconceito. A escolha de jovens gays como público alvo da campanha não é
à toa: a incidência da aids entre essa população aumentou de forma
expressiva na última década. "E a campanha tem de ser dirigida ao
público em geral. Não adianta veicular em ambientes fechados. Além
disso, é piada imaginar que numa boate todo mundo vai parar para ver a
peça", disse Pinheiro.
O ministério informou ontem, por
meio de sua assessoria, que o calendário da apresentação de um novo
filme está mantido: domingo. De acordo com a pasta, o filme encontra-se
em fase final de produção. O ministério ao longo dos últimos dois dias
recebeu manifestações e pedidos de explicações sobre o episódio. Nenhuma
resposta formal foi apresentada até agora, informou a assessoria de
imprensa. O ministério, ainda por meio da assessoria, disse que até o
fim da tarde de ontem não havia recebido nenhum comunicado do Fórum de
ONGs de Aids de São Paulo. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
Nota na íntegra
NOTA DE REPÚDIO
CONTRA O VETO DO GOVERNO FEDERAL AO FILME DE PREVENÇÃO EM AIDS
DIRIGIDO AOS HOMOSSEXUAIS
O Fórum de ONGs Aids do Estado de São Paulo, que congrega 92
entidades filiadas, reunido em 10 de fevereiro de 2012, vem a público REPUDIAR
o veto do Governo Federal que impediu a veiculação, em TV aberta e
canais de grande circulação, do filme dirigido aos jovens homossexuais,
como parte integrante da campanha nacional de prevenção em aids do
carnaval.
Contestamos a versão divulgada pelo Ministério da Saúde de que o
filme censurado não seria veiculado em TV, mas apenas em ambientes
fechados freqüentados por homossexuais. São evidências do veto do
governo: 1) O filme foi apresentado durante o lançamento das peças da
campanha dia 2/02, no Rio de Janeiro; 2) A descrição do filme, como
sendo para TV, consta de texto amplamente divulgado pelo Ministério da
Saúde; 3) O filme foi retirado sem explicações do site oficial do
Departamento de DST-Aids; 4) As características técnicas do filme
apresentam o padrão comercial da televisão brasileira , como o formato
de 30 segundos, a linguagem para grande público , estética e narrativa
igualmente características dessa tradicional mensagem publicitária de
TV.
Denunciamos que a censura interna imposta pelo Governo ao vídeo é
clara demonstração de discriminação e de violação aos direitos dos
homossexuais, população altamente vulnerável à infecção pelo HIV e que
demanda, portanto, campanha de saúde pública de grande alcance.
Neste sentido, decidimos pela denúncia formal contra o Governo
brasileiro, em instâncias nacionais e internacionais de Direitos
Humanos.
Ao mesmo tempo daremos entrada à Representação junto ao Ministério
Público Federal, para que seja apurada a conduta discriminatória do
Governo Federal, bem como o desperdício de recursos públicos com a
produção de uma campanha sem a devida veiculação em canais adequados.
Por fim, apelamos ao Ministro da Saúde, Alexandre Padilha e à
Presidenta da República, Dilma Roussef, que derrubem o veto ao filme e
autorizem a sua veiculação em veículos de comunicação de massa antes do
carnaval de 2012.
Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo
(11) 3334-0704 forumongsp@forumaidssp.org.br
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